1920. Nasce no dia 21 de junho, em Santa Maria da Boca do Monte.
Filho de Henrique Scliar, que imigrara da Ucrânia para a Argentina e, posteriormente, para o Sul do Brasil, e de Cecília Stechman, originária da Rumânia (Bessarábia). Aos seis meses de idade, a criança seria levada pelos pais para Porto Alegre, onde viveria até os 18 anos.
1922. De 5 a 17 de fevereiro, em São Paulo, em pleno carnaval, ocorre a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal paulista, movimento artístico de ruptura liderado por Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Tarsila Amaral, Guilherme de Almeida e Menotti del Picchia, entre outros poetas, escritores e artistas plásticos. Em 25 de março, é fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 5 de julho eclode a insurreição tenentista no Rio de Janeiro, conhecida como “os 18 dos Forte”, contra o governo de Epitácio Pessoa. Em 7 de setembro, é aberta no Rio a exposição comemorativa da Independência do Brasil.
1924. Em 5 de julho de 1924 é deflagrada em São Paulo a revolução paulista, também conhecida como “revolução esquecida” ou segundo movimento tenentista. Os líderes eram Isidoro Dias Lopes, Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes, Índio do Brasil e João Cabanas. Ao serem derrotados, os revoltosos se uniriam aos oficiais gaúchos comandados por Luiz Carlos Prestes, que haviam partido da cidade de Foz Iguaçu, dando início ao maior feito guerrilheiro no Brasil, a lendária Coluna Prestes.
1930. Revolução liberal de 30, movimento armado liderado pelos estados de Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul, que depôs em 24 de outubro o presidente Washington Luís, impedindo que empossasse o paulista Julio Prestes. Em 3 de novembro, o líder caudilhista Getúlio Vargas chega ao Rio e assume o governo provisório. Fim da República Velha.
1931- Com apenas 11 anos, Scliar começa a colaborar nos suplementos Infantis do Diário de Notícias e do Correio do Povo, de Porto Alegre, com poemas, desenhos e contos.
1932. Revolução Constitucionalista de São Paulo.
1934. Com 14 anos, estuda desenho e pintura durante alguns meses com o pintor austríaco Gustav Epstein.
Promulgada, em 16 de julho, a nova Constituição Brasileira, que dava direito de voto às mulheres e ampliava o número de eleitores. Liberal, foi redigida para “organizar um regime democrático, que assegurasse à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico”.
1935. Scliar participa pela primeira vez de mostra coletiva com seis trabalhos na Exposição do Centenário Farroupilha, em Porto Alegre. Começa a frequentar o departamento gráfico da Editora Globo.
1937 – Decretado o Estado Novo de Getúlio Vargas, regime ditatorial que se estenderia até 1945. Francisco Campos redige uma nova Constituição, que viria ser conhecida como “polaca” e vigoraria até 1946.
1938. Contestando a arte acadêmica, ao lado de João Fahrion, figura entre os fundadores da Associação de Artes Plásticas Francisco Lisboa, em Porto Alegre, dela tornando-se o primeiro secretário. Frase de Scliar na época: “Em 1938 terminei o ginásio com certa dificuldade. Por três anos repeti a terceira série, pois já estava interessado nas minhas lides intelectuais…”
Anexação da Áustria pela Alemanha.
1939. Primeira viagem para o Rio e para São Paulo. No Rio, visita a redação da revista “Diretrizes”, de Samuel Wainer, tendo conhecido Rubem Braga, Carlos Lacerda, Moacir Werneck de Castro e Álvaro Moreyra. Procura Portinari no MEC. O já consagrado artista paulista, nascido em Brodowski, influencia o jovem gaúcho, dizendo que até então “estava fazendo tudo errado” e precisava tratar a arte mais seriamente. Rubem Braga é contratado por um jornal de Porto Alegre e convive muito com Scliar, dando-lhe conselhos. É inscrito pela família num curso técnico de engenharia, mas o abandona.
Início da II Guerra Mundial, com a invasão da Polônia pelos nazistas.
1940. Muda-se para São Paulo, onde se liga ao grupo da Família Artística Paulista. Nessa mesma cidade, realiza sua primeira exposição individual, com pinturas de 1939 a 1940. Conhece Oswald, Sérgio Milliet, Bonadei, Manoel Martins. Participa da única exposição que a Família Artística fez no Rio. E também participa, com o grupo paulista, da Divisão Moderna do Salão de Belas-Artes, no Rio, obtendo Medalha de Prata na seção de pintura.
Desde o início da guerra, Getúlio namora os países do Eixo, fazendo negócios com os alemães. “O Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano que exige respeito às suas leis e que defende seus interesses. O Brasil é brasileiro.” (Getúlio Vargas, 1940)
1941. A convite de Jorge Amado, militante do Partido Comunista, muda-se para o Rio e passa a morar na Urca. Exilado, Jorge vai para o Uruguai e a Argentina, disposto a escrever um livro sobre Prestes. Scliar visita, com James Amado, irmão de Jorge, a fazenda da família dos amigos no Sul da Bahia. Também neste ano é que conheceria Cabo Frio, em companhia do cineasta Ruy Santos, que fora à Região dos Lagos fazer um documentário.
Em 7 de dezembro, os japoneses atacam a base norte-americana em Pearl Harbor. Os Estados Unidos, que até então mantinham a neutralidade, entram na guerra.
1942. Volta para São Paulo, trabalha em vários projetos e começa a frequentar o curso de Ciências Sociais na Fundação Armando Álvares Penteado. Figura entre os artistas reunidos no álbum 35 Litografias, ao lado de Bonadei, Clóvis Graciano e Lívio Abramo, e também edita o seu primeiro álbum de litografias, Fábula.
1943. É convocado para a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Retorna ao Rio, no começo de 1943, para fazer o curso de Comunicação que o levaria a trabalhar em uma das unidades da FEB na Itália. Elabora um texto para o documentário cinematográfico Segall, de Ruy Santos. Escreve e dirige o documentário Escadas, com fotografia de Ruy Santos, sobre os pintores Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes, que haviam imigrado para o Brasil por causa da guerra.
Em janeiro de 43, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, visitara Natal, obrigando Getúlio Vargas a deixar de titubear e apoiar os Aliados na II Guerra Mundial.
1944. Em setembro parte para a Itália para se integrar ao Segundo Escalão da FEB, comandado pelo general Cordeiro de Farias. De pracinha é promovido a cabo artilheiro, mas, fortemente tocado pela miséria, provações e sofrimentos provocados pelo conflito, não para de desenhar durante a campanha da FEB no Norte da Itália.
Desenha a si mesmo e a seus companheiros fardados; soldados mortos, dormindo ou ao telefone; cenários de combates, como o Monte Castelo, paisagens, casas e naturezas mortas. Sua visão de mundo e sua arte mudam com a brutal vivência da guerra. Scliar escreveria, anos mais tarde: “Foi na guerra, em contato com a miséria que ela produz, vivendo aqueles instantes derradeiros, que banham de luz nova tudo que nos cerca, que se iniciou uma nova etapa em minha pintura. Eu era, senão um pessimista, quase um cético; me descobri então um lírico, um lírico visceralmente otimista, com uma tremenda confiança na humanidade”. Na terra de Dante, reencontra o amigo Rubem Braga, que trabalhava como correspondente para o Diário Carioca.
Os Aliados haviam invadido a Normandia em junho.
1945. Prepara a paginação do número especial do jornal da FEB, Cruzeiro do Sul, em Florença. Ao retornar para o Brasil, em julho, fixa-se mais uma vez no Rio. Expõe seus desenhos de seus Cadernos de Guerra no Rio, São Paulo e Porto Alegre. Participa ativamente do movimento pelo fim da ditadura de Vargas, pela convocação de uma nova Constituinte, anistia de presos políticos e retomada do processo democrático brasileiro. Realiza conferências sobre a luta antifascista e atuação da FEB na Itália.
Em 30 de abril de 45, Hitler se suicidara em seu bunker em Berlim. No dia 7 de maio, a Alemanha enfim assinava sua rendição incondicional. No dia 6 de agosto, os Estados Unidos lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima. Após 15 anos no poder, Getúlio seria deposto do Catete em 29 de novembro de 1945 por um movimento militar liderado pelo general Góis Monteiro. Volta a reinar a democracia no país. Surgem novos partidos, UDN, PTB, PSD, e o Partido Comunista sai da clandestinidade. Em 2 de dezembro, Eurico Gaspar Dutra é eleito para a Presidência da República. Já Luiz Carlos Prestes é eleito senador.
1947. Dirige e diagrama a Revista de Arte, suplemento da revista Leitura. Participa da mostra “Homenagem ao povo espanhol”, no Rio.
1948. Decide voltar à Europa, fixando-se em Paris. Estuda, trabalha e se envolve com manifestações políticas. Participa de discussões sobre arte abstrata e realismo socialista. Viaja pela Itália, Inglaterra, Checoslováquia, Iugoslávia, Polônia e Portugal. Comparece ao I Congresso da Juventude Democrática em Praga.
1949. Publica, pela Association Latine-Américaine, sediada em Paris, o álbum de linoleogravuras Les Chemins de la Faim (Os Caminhos da Fome), com apresentação de Jorge Amado. Comparece ao I Congresso dos Partidários da Paz, em Paris.
1950. Após quatro anos de estada na Europa, Scliar volta para o Brasil, convencido que apenas em seu próprio país descobriria seu caminho artístico mais profundo e mais coerente consigo mesmo, com sua visão de mundo e intuição das coisas. Passa pelo Rio e segue para Porto Alegre. Participa da Fundação do Clube da Gravura de Porto Alegre, do qual se tornaria presidente. Começa a conceber graficamente a revista Horizonte, à qual ficaria ligado até 1962. Participa ativamente do Movimento da Paz, realizando cartazes para a mobilização popular contra a guerra atômica (o mundo ainda temia uma Terceira Guerra Mundial). Ele escreveria, posteriormente: “
Em 1950, encontrei o Rio, e principalmente São Paulo, em plena febre dos museus, e, a seguir, em 1951, das Bienais, que defendiam, em regulamento, o vanguardismo do dia. Decidi me enfurnar no Rio Grande do Sul. Ia buscar talvez minhas raízes, mas pretendia parar para pensar…”
3 de outubro de 1950, ocorreram novas eleições presidenciais no Brasil. Derrotando seus oponentes Cristiano Machado, Eduardo Gomes e João Mangabeira, Getúlio Vargas é reconduzido pelo povo ao poder, com 48,70% dos votos.
1951. É incluído na publicação 15 Dessins pour la Paix, editada em Paris.
1952. Vai à Conferência pela Paz em Montevidéu. Figura em várias mostras de gravadores gaúchos, no Brasil e no exterior. Integra o álbum Gravuras Gaúchas (1950-1952), Prêmio Pablo Picasso da Paz, editado no Rio. Participa com amigos – Glauco Rodrigues, Glenio Bianchetti, Danúbio Gonçalves – do Salão de Arte Moderna, no Rio, com obras “hors concours”, defendendo a disciplina no ato de criação. “A liberdade nasce do conhecimento”, escreveu.
1953. Ilustra o romance Seara Vermelha, de Jorge Amado, publicado em Tel-Aviv. Realiza uma nova viagem a Europa, visitando a Holanda, Checoslováquia, Polônia, União Soviética, com uma delegação cultural. Comparece ao Congresso Continental da Cultura, em Santiago do Chile. Inicia a execução da série de gravuras Estância, terminada em 56. Participa do II Salão de Arte Moderna, no Rio.
1954. Recebe medalhas de prata, em desenho e gravura, no VI Salão da Associação de Artes Plásticos Francisco Lisboa, em Porto Alegre. Toma parte do I Congresso Nacional de Intelectuais, em Goiânia.
Em 6 agosto de 54, estoura no Rio o Caso Toneleros, ou seja, o atentado a Carlos Lacerda por capangas de Vargas que resultou na morte do Tenente Vaz. No dia 24 de agosto, Getúlio Vargas se suicida, deixando aos brasileiros sua famosa Carta Testamento. Em 3 de setembro, assume o governo o vice-presidente Café Filho.
1955. Scliar conquista o Prêmio de Viagem pelo país pelo IV Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio. Expõe em Porto Alegre gravuras executadas entre 1942 e 1955.
Em outubro, ocorreu a eleição de Juscelino Kubitschek e de João Goulart (chapa PSD-PTB). Em novembro, este resultado nas urnas criou um clima de revolta e insatisfação entre militares, políticos e jornalistas ligados a UDN Afastado da Presidência, por se encontrar doente, Café Filho foi substituído por Carlos Luz e posteriormente por Nereu Ramos. Depois, tentou reassumir o governo, no que foi impedido pelo general Lott. O Congresso aprovou o impedimento de Café e finalmente Nereu Ramos deu posse a Juscelino.
1956. Publica o álbum Estância, com 5 gravuras originais. Recebe o prêmio da Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do RGS; Atua, no Rio, como consultor plástico na produção teatral de Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Planeja graficamente e ilustra a edição da peça, fazendo ilustrações especiais para a edição italiana. Realiza uma retrospectiva de seus desenhos na Biblioteca Nacional. Também expõe desenhos no MAM de São Paulo e participa da exposição Gravura Contemporânea, em Lisboa.
1957. Cria cartazes para o filme Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. Elabora programas para o Teatro Nacional de Comédia, no Rio, companhia patrocinada pelo Serviço Nacional do Teatro, da qual participaram Gianni Ratto e Ziembinski. Expõe gravuras em Berlim e em Montevidéu.
1958. Participa da I Bienal Interamericana de Pintura e Gravura, na Cidade do México. Passa a ocupar a chefia do Departamento de Arte da revista Senhor, cargo no qual ficou até 1960.
1960. Realização de individual de pintura , na Galeria Tenreiro, no Rio. Deixa a revista Senhor, último trabalho no setor gráfico, e passa a ser artista contratado da Petite Galerie. Feliz com a liberdade profissional, comemora o fato de ter “vinte e oito horas” por dia só para pintar. Os trabalhos aumentam de tamanho: faz dípticos e trípticos. Em euforia, dedica-se totalmente à sua arte.
Transferência da capital do país do Rio para Brasília, com a inauguração da nova capital em 21 de abril pelo presidente Juscelino. Eleição de Jânio Quadros para presidente, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PRL. Não consegue eleger seu vice, Milton Campos. João Goulart, do PTB, é mantido pelos eleitores na Vice-Presidência do país.
1961. Mostra retrospectiva 22 anos de pintura, na qual foram exibidos cerca de 150 trabalhos, em Porto Alegre. Exposição individual na Petite Galerie, do Rio. Descobre a beleza tranquila da cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, com suas igrejas brancas e douradas e o casario colonial, de telhados vermelhos, a colorirem o verde das matas.
Jânio Quadros renuncia à Presidência em 25 de agosto. Ranieri Mazzili governa provisoriamente, em meio a intensa crise institucional. Após a Campanha da Legalidade liderada por Brizola, no Sul, Jango assume o governo.
1962. É incluído na mostra de gravuras e desenhos brasileiros, durante o Festival dei Due Monde, na cidade italiana de Spoleto. Ao lado de outros artistas brasileiros, expõe obras em Rabat, Marrocos.
1963. Publica, pela Ediarte, no Rio, o álbum Naturezas-mortas, com obras executadas de 1941 a 1963 e textos de Jorge Amado e Joaquim Cardozo. Realiza uma exposição individual na Galeria Profili, de Milão e, outra, na Casa do Brasil, em Roma.
1964. Exposição individual em Düsseldorf e em Frankfurt. Gugu Mendes escolhe-o para ser um dos três pintores incluídos no documentário a cores Artes Plásticas no Brasil -1. Compra o sobrado colonial em ruínas no canal em Cabo Frio que pertencia à família do Marechal Rondon e que depois iria restaurar e ampliar. Será sua moradia ao longo de 40 anos. Também comprará uma casa encravada numa encosta de Ouro Preto.
Em 31 de março, eclode o golpe militar que depõe Jango Goulart, dando início ao longo período de trevas da ditadura. O general Humberto Castello Branco assume o poder. Cassações em massa e exílio de intelectuais e políticos de oposição. Do Uruguai, onde se encontra exilado, Brizola (o “Comandante Pedrinho”) irá coordenar a formação de focos guerrilheiros em Leopoldina, Cáceres e Caparaó, além de outras regiões do interior do país. Sonhava-se com uma Sierra Maestra brasileira.
1965. Participa da mostra Brazilian Art Today (Arte Brasileira Hoje), apresentada em Londres, Viena, Bonn e Bruxelas, até 1966. O jornalista Pierre Kast realiza reportagem a cores a respeito de sua pintura, para a série Retratos do Brasil, destinada à televisão francesa.
1967. Publica a primeira série de serigrafias, executada por Dionísio del Santo, no Rio. Concebe e realiza os envelopes Cinco Serigrafias, Caixas I, Caixas II e Frutas, cada um contendo cinco imagens, com edição de Dionísio. Executa painel na sede do Banco Aliança, em edifício projetado por Lúcio Costa, no Rio. No dia 9 de outubro, é anunciada a morte de Che Guevara, morto no dia 8, na serra boliviana.
1968. Ajuda a organizar a I Feira de Arte da Associação Internacional de Artistas Plásticos, no Museu de Arte Moderna do Rio. Participa, juntamente com outros intelectuais e artistas, da grande manifestação realizada no centro do Rio em protesto pela morte do estudante Edson Luís, que ficou na história com o nome de “Passeata dos Cem Mil”. Em uma das fotos da heroica mobilização contra os desmandos do governo militar, Scliar se encontra ao lado de Clarice Lispector, Glauce Rocha, Milton Nascimento e Ziraldo.
Decretado, em 13 de dezembro, o Ato Institucional número 5, que endureceu brutalmente a ditadura, acabando com o habeas-corpus. Entram em cena na trevosa história dos tempos de chumbo brasileiros a tortura nas prisões, o desaparecimento e morte de presos políticos. Começa a guerrilha urbana no Rio e em São Paulo.
1969. Com texto de Rubem Braga e reproduzindo os desenhos feitos durante a campanha da FEB na Itália, é publicado o Caderno de Guerra de Carlos Scliar. Antonio Carlos Fontoura realiza odocumentário Ouro Preto e Scliar.
Em 4 de setembro o embaixador Charles Elbrick, dos Estados Unidos, é sequestrado no Rio de Janeiro. Os sequestradores trocam o embaixador por 15 presos políticos que aterrissam no México na manhã do dia 7 de setembro, um domingo. Em outubro, o general Emilio Garrastazu Médici passa a presidir o Brasil. Em seu governo, que iria até 15 de março de 1974, repressão militar chegaria ao ápice em nosso país. Jovens militantes, engajados na guerrilha urbana, são presos, torturados, caem na clandestinidade ou se exilam.
1970. Retrospectiva Scliar, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, coordenada por Roberto Pontual, na qual foram exibidas exibiu mais de oitocentas obras (pintura, desenho e gravura). Editada a monografia Scliar, o Real em Reflexo e Transfiguração, de Pontual, pela Civilização Brasileira. O álbum 12 Desenhos de Scliar, com obras de 1944 a 1970, é lançado por ocasião da retrospectiva no MAM. Adamastor Câmara dirige um documentário sobre a mostra, intitulado Os Caminhos da Cor. Scliar ilustra 4 bilhetes de efemérides da Loteria Federal para 1971. Os anos 70 são os da resistência silenciosa de Scliar. A palavra “Pense” aparece centenas de vezes em seus quadros. “Era um momento em que as autoridades queriam pensar por nós, subestimando a capacidade e a inteligência do nosso povo”.
1971. Retrospectivas no Museu de Arte Moderna de São Paulo; em Curitiba, para a Secretaria Cultural do Paraná, e em Belo Horizonte, na Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais. Exposições de pintura no Rio, São Paulo e Porto Alegre.
1972. Realiza individuais de pintura em São Paulo e Brasília. Edita o álbum didático Scliar/Serigrafias, com texto de Roberto Pontual, impresso por Dionísio del Santo.
1973. Expõe o álbum didático em mostras organizadas pelos diretórios acadêmicos de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Escola de Belas Artes da Bahia, e no Curso de Gravura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Individuais de pintura no Recife e em Santos. Termina o políptico Ouro Preto 180º para a sede da Manchete, no Rio de Janeiro. Realiza conferências com debates e exposições de suas gravuras, no Centro de Criatividade da Prefeitura de Curitiba.
1974. Realiza três painéis sobre a cidade de Porto Alegre, para o Salão Nobre da Prefeitura municipal dessa cidade. A convite do governador da Bahia, realizada um painel díptico sobre Santa Cruz de Cabrália e um painel sobre Porto Seguro, para o Centro Administrativo do Governo da Bahia, em Salvador. Editado o álbum Série Gaúcha, 9 linóleos e pochoir, com apresentação de Joaquim Cardozo. O general Ernesto Geisel sucede Médici na Presidência do país. Governará até 1979.
1975. Realiza exposições de pinturas em São Paulo, Brasília e Goiânia.
Na noite do dia 24 de outubro de 1975, Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos. Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de jornalistas presos na mesma época, Vladimir foi assassinado sob forte tortura. Jornalista muito querido, a repercussão de sua morte foi enorme.
1976. Scliar participa com um grupo de artistas do encontro em Bagé. Realiza o políptico Ouro Preto 360º, para uma residência particular em Brasília. Este painel, com vinte peças, é exposto em Sala Especial no Salão Global de Belo Horizonte; na Fundação Cultural do Paraná; na Exposição do Grupo de Bagé; e no Museu de Arte Moderna do Rio. Exposição de pinturas recentes em Curitiba e em Belo Horizonte.
Em janeiro, morre no DOI-CODI o metalúrgico Manuel Filho. Geisel manda destituir o general Ednardo D’Avila Mello do comando do 2º Exército, em Sâo Paulo. Apesar do “Pacote de Abril”, autoritário, começa um processo de distensão politica no país.
1977. Realiza o painel Leia-Pense para a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro. Expõe uma retrospectiva, com 50 peças, pela Fundação Cultural da Bahia. Expõe pinturas em Porto Alegre, Parati e Rio. É editado, pela Lithos, o álbum de serigrafias Telhados de Ouro Preto.
1978. Individuais de pintura em Santos, Recife, Rio e Brasília. Retrospectiva síntese nas Universidades do Espírito Santo e de Blumenau. Sala especial de gravura em Curitiba. Pintura de um painel para a sede da Líder Transportes Aéreos, em Belo Horizonte. Exposição de desenhos e gravuras sobre Ouro Preto, na Casa dos Contos da cidade mineira.
É criado no Rio o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia. Geisel revoga várias leis de exceção da ditadura, inclusive o AI-5. Eclode a primeira greve de metalúrgicos no ABC. Lula desponta como líder.
1979. Individual de pintura na André Galeria de Arte, em São Paulo. Expõe 17 litografias, realizadas para a Graphos, em Porto Alegre, São Paulo, Rio e Belo Horizonte.
Em 29 de agosto, é sancionada, pelo general Figueiredo, o do “prendo ou arrebento”, a Lei da Anistia, que gerou críticas, por não ser ampla e irrestrita. Presos políticos foram sendo gradualmente libertados e exilados começam a voltar para o país.
1980. Individual de pintura na Oscar Seráphico Galeria de Arte, em Brasília. Entrada nos anos 80, os da liberdade da forma e da cor. Representam o período de maturidade do artista: menos preocupado com as inovações, a Scliar interessa sedimentar no espírito e na inteligência das pessoas as conquistas da modernidade. Para tal, trabalha e retrabalha suas imagens, seu sensível repertório visual, obtendo novas relações, novos resultados. A série de trabalhos organizada para a mostra “Território Ocupado” que se realizou na escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) é significativa, uma espécie de síntese desse período.
Em fevereiro, é aprovada a fundação do Partido dos Trabalhadores por dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia Libertação.
1981- Individuais de pintura no Rio, Salvador, Porto Alegre e Recife. Individuais de gravura no Museu da Gravura, em Bagé, e na Universidade Federal de Santa Maria.
Em 30 de abril, estoura a bomba no Rio Centro.
1982. Individuais de pintura em São Paulo, Brasília e Santa Maria, no RGS. Exposição de serigrafias e guaches na Sala Corpo de Exposições, em Belo Horizonte.
1983. Individuais de pintura na Galeria Momento-Arte, em Curitiba, na Galeria Artenossa, em Londrina, e em Belo Horizonte. Editado o álbum Scliar/Desenhos 1940-1949, pela Oficina Goeldi, em BH. Retrospectiva 1939-1983 no MAB-FAAB (Brasilian Art Museum da Fundação Armando Alves Penteado), em São Paulo.
1984. Série de desenhos, gravuras e pintura, realizada em Angra dos Reis, sob encomenda da empresa Verolme. Diante da paisagem luxuriante da região, Scliar resgatou o traço rápido, o gesto veloz, a herança expressionista manifestada nos desenhos de guerra e produziu uma série de intensa beleza e espírito contemporâneo.
Movimento das Diretas Já, apoiado pelos estudantes caras-pintadas, sacode o país. Grande manifestação política no Rio de Janeiro, com palanque e comício em frente à Candelária. Mas a emenda de Dante Oliveira não passa.
1985. Tancredo em janeiro é eleito presidente por voto indireto, derrotando Paulo Maluf, mas em março, às vésperas da posse, é internado às pressas. Morreria no dia 21 de abril. Seu vice-presidente, José Sarney, assume o Governo, no qual ficaria ao longo de cinco anos.
1987. Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand no MAM, Rio de Janeiro.
1989. Participa da mostra Seis Décadas de Arte Moderna Brasileira, Coleção Roberto Marinho, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
1990. Collor toma posse em março.
1991. Participação no 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP.
1992. Exposição Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung (Brasil, Descobrimento e Autodescobrimento), na Kunsthaus, Zurique (Suíça). Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no CCBB, Rio de Janeiro. Collor renuncia à Presidência, após sofrer um processo de impeachment por corrupção. Assume seu vice Itamar Franco.
1993. Arte Erótica, no MAM/RJ. Participação na exposição O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi, São Paulo. Participação na exposição Paixão do Olhar, no MAM/RJ.
1994. Participação nas seguintes mostras ou exibições: Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal, São Paulo; Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ, e Trincheiras: arte e política no Brasil, no MAM/RJ. Homenageando seus amigos músicos, Scliar passa a incluir partituras musicais em seus quadros-colagens.
1995. Grande retrospectiva: Scliar: 50 anos de produção artística, no Margs, Porto Alegre.
O sociólogo Fernando Henrique Cardoso é empossado presidente do Brasil. Ficará no cargo até 2003.
1998. Participação na mostra O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand-MAM/RJ, no MASP, São Paulo.
1999. Começa a se dedicar a preparar a série comemorativa do Descobrimento do Brasil.
2000. Exposição Brasil 500 Anos. Arte Contemporânea, na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (Portugal). Exibição dos desenhos de seus Cadernos de Guerra (1944-1945), no Museo Morandi, Bologna (Itália). Retrospectiva Carlos Scliar: 80 anos, no MNBA, Rio de Janeiro, comemorativa de seu aniversário.
2001. Morte de Scliar. Criação do Instituto Cultural Carlos Scliar, que desde então mantém intensa atividade cultural em Cabo Frio, promovendo as artes na Região dos Lagos, como queria seu mentor e inspirador.
2003. As cinzas do pintor são jogadas nas águas do Canal do Itajuru, em Cabo Frio, em frente a sua casa ateliê, transformada em museu, aberto à visitação pública. Ao lado da casa ateliê, funciona a Oficina-Escola Carlos Scliar, que oferece cursos de arte, noções de marcenaria, atendendo jovens estudantes da rede pública. No local, são comercializados os produtos da oficina, assim como gravuras e livros de artes.
Luiz Inácio Lula da Silva toma posse como presidente do Brasil, cargo que exercerá até 2010.
2006. A prefeitura de Cabo Frio, em parceria com o Instituto Cultural Carlos Scliar, reconhecendo a importância do artista para a cidade, rendeu-lhe merecida homenagem, rebatizando a avenida à beira do Canal do Itajuru como Orla Scliar. Em outubro, além da própria Orla, também foi inaugurada a escultura do pintor, concebida pelos artistas plásticos Cristina Ventura e Jonas Corrêa.
2011. O Instituto Municipal do Patrimônio Cultural (PMCF), tomba o acervo e a Casa Ateliê na qual Scliar morou ao longo de 40 anos.
TEXTO :: Cecília Costa Junqueira.