Vinícius de Moraes

Oscar Niemeyer, Carlos Scliar e Vinícius de Moraes,  durante um ensaio de "Orfeu da Conceição" (1956)

Oscar Niemeyer, Carlos Scliar e Vinícius de Moraes, durante um ensaio de “Orfeu da Conceição” (1956)

 

“Para Scliar a vida conta em seus mínimos detalhes. Pode ele não ser talvez – por se tratar de artista notavelmente equilibrado – um participante desabrido, no sentido picasseano, pois em Scliar a coragem de viver é sempre amenizada por uma grande ternura por tudo o que existe. É difícil encontrar criatura menos egoísta. Mas ele é também o contrário de um alienado. Sua arte traduz um refinamento orgânico, fruto de sua evolução como homem; constitui uma síntese sem perda de substância. Sente-se que o artista domou os elementos mais dramáticos de sua experiência vital no sentido de uma comunicação talvez menos pungente, mas certamente mais pura na acepção platônica do termo. E nisso ele se aparenta – guardadas as proporções históricas – a um Mallarmé no campo da poesia. Buscando extrair dos objetos (que são, ademais de criação do homem, seus melhores amigos) o máximo de sua essencialidade, Scliar revela de saída, para quem souber ver, toda a pureza de seu humanismo dialético, do seu intenso mas disciplinado amor pelo homem através do que o homem cria com suas próprias mãos. E embora as coisas e objetos – ou seja, as formas – não prevaleçam na sua atual pintura como os valores mais intencionais, são eles os instrumentos de sua constante pesquisa do mistério desse choque sem ruído da luz sobre as coisas e objetos, do qual nasce a cor. Num artista humanamente menos consciente, isso poderia parecer um exercício estéril, como o que, mutatis mutandis, compromete a meu ver a arte poética de Valéry. Mas em Scliar o prazer quase infantil que o artista tem em jogar com esse trinômio luz-objeto-cor, resulta positivo porque na contextura de seus quadros, no seu discreto figurativismo, existe latente o sentimento de dádiva, de comunicação. Como se o pintor oferecesse ao homem, seu semelhante, certos segredos e nuanças de sua própria obra que este, sempre voltado para o prosaísmo do seu cotidiano, não pudesse ou não soubesse mais ver.”

 

(Vinícius de Morais, Roma, 1963)

 

“Num meio artístico aloprado como o nosso, a coerência de Scliar como pintor é admirável. E a coisa linda também nesse poeta do objetivo é que o sucesso e a prosperidade em nada afetaram o seu angelismo, em nada comprometeram a sua inata disciplina e frugalidade. Eu, simplesmente, gosto de Scliar, isso é tão simples. E independente da grande admiração que tenho por ele.”

 

Vinícius de Moraes (Fatos e Fotos, RJ, 1964)