Romério Rômulo

Carlos Scliar e Romério Rômulo, em Ouro Preto, 1993

Carlos Scliar e Romério Rômulo, em Ouro Preto, 1993

 

O poema abaixo faz parte da exposição Scliar – 80 anos, em formato de painel – 160 x 220 cm

 

PASSAGEM POR SCLIAR E OURO PRETO

Romério Rômulo (2000)

 

verdade mineira de dizer scliar: difícil de tão fácil, relato-me e o

relato: do mineiro que sou ao gaúcho que vê ouro preto de ouro

preto, gaúcho que me descobre a ouro preto que não vi: retilínea

que eu vejo barroca. scliar analisa o tempo íntimo do tempo.

caminho-lhe a fala, de hoje, entrado, leio a palavra na paisagem:

“arme e desarme

a paisagem é outra

e a mesma

e você é o mesmo

e outro.”

armo e desarmo, sou o mesmo e outro. a paisagem: scliar e ouro

preto, outros. a paisagem: scliar e ouro preto, mesmos. scliar é fé:

estou com ele.

prestes homenageado, traço scliar, traço niemeyer. desenho e

palavra mostram a vida tanta: prestes 90 anos.

percorro trípticos, agitado, um. calmo, outro. tensão-dimensão: o ato

compulsivo-dialético do homem. O homem que scliar acredita.

caminho por flores de racionalidade. a flor de racionalidade em

scliar é emoção. cada gesto, domado. cada emoção, domada. domados,

emoção e gesto pulsam, scliar relata: “eu pinto o cheiro das flores.”

quadros claros: esta maior última de scliar. ao “sermam de terceyra

dominga”  scliar soma: “e agora.”

ouro preto volta: casario sobre tela. ouro preto volta: gravura com

o grito-bandeira de manuel bandeira que scliar agita:

“meus amigos

meus inimigos

salvemos ouro preto”

corto:

“meus amigos

meus inimigos

salvemos a luta de scliar.”

por cartazes e livros, scliar gráfico apontando caminhos. mesmo

de assinar. assinatura-traço-poema: concreto-pôr-sobre.

ultra-pássaro scliar

liberto tanto

ave!