Jorge Amado e Zélia Gattai

 

Já se passaram mais de quarenta anos do primeiro impacto sofrido por mim ao contemplar em São Paulo trabalhos de quem era então quase um menino, apenas um adolescente, recém-chegado do Rio Grande do Sul com telas e pincéis, uns olhos claros e ternos, o coração pleno de sonhos, um caráter já inflexível, o dom da amizade, o talento incomum. Eram uns quadros enormes, ambiciosos, ninguém poderia ficar indiferente ante tanta força, tamanha decisão, a vocação definitiva de um pintor que ali estava ainda em gestação, aquela presença que não podia deixar a mínima dúvida sobre o dia de amanhã. (…)

 

Humanismo, eis a palavra que resume o trabalho de Carlos Scliar, no qual a beleza se supera a cada pincelada.”

 

Jorge Amado (1981)

 

<transcrição carta Amado>

jovem coração ardente, lutador incansável pela liberdade e pelos direitos humanos, mestre Carlos Scliar, querido Carlitos que conheci menino, começo de uma amizade que só fez crescer e se fortalecer. Com o amor fraterno do velho

Jorge”

 

 

“Meu querido Scliar:

um beijo muito carinhoso pelos

teus gloriosos 70 anos.

Tua irmã

Zélia”

 

Jorge Amado e Zélia Gattai (1990)

 

 

 

“Zélia,

voltei à minha juventude lendo tuas incríveis lembranças de Senhora Dona do Baile. Há experiências que nos marcam para sempre. Consegues, com prodigiosa memória, relembrar um período que foi tão rico e importante para nós. Te revelas sempre a maravilhosa amiga, a companheira com quem contávamos em qualquer circunstância.

Te conheci em 1940, um ano antes de conhecer Jorge pessoalmente. Com os dois vivi momentos marcantes. Fico pasmo com tua incrível memória. Me diverti imensamente lendo tuas e “nossas” aventuras. O que mais me espanta é como recrias, em teu livro, o clima daquela época: passa pelas tuas páginas a malícia, nosso apetite, nossa crença nos valores que defendíamos, e continuamos defendendo, talvez com alguma ingenuidade, saudável ingenuidade… mas creio que isso nos marcou a todos, Zélia, naquela riquíssima vivência.

 

(…) Zélia, és um fenômeno de gente. Continuas a mesma pessoa maravilhosa e viva, amiga e empenhada, honesta e pura, maliciosa e moleque; continuas uma pessoa inteira. (…)”

 

(texto de Carlos Scliar para a orelha do livro  Senhora Dona do Baile, de Zélia Gattai, 1984)