“(…) Só que o Pedro de quem estou falando não era mentiroso,
e muito menos um simples pintor de paredes.
Era pintor de pinturas mesmo.
Pintava quadros, como os outros artistas.
Sua maior vontade era um dia ser um grande artista, como Carlos Scliar, por quem tinha a maior admiração.
Procurava imitar o mestre, pintando os seus quadros com muito cuidado e carinho, como ele fazia.
Carinho pela natureza, pelas plantas e pelos bichos,
carinho pelos outros homens, por todas as coisas.
Mesmo que fosse uma simples cadeira, ele pintava com todo o amor.
Para Pedro, pintar era um ato de amor.”
(Fernando Sabino, trecho do livro “O pintor que pintou o sete”, da série “Arte para Criança”, Berlendis & Vertecchia Editores, 1986)
“(…) E sua vida cotidiana é só pintura; não consigo encontrar senão o pintor empenhado o dia inteiro em sua atividade. Mesmo quando está dormindo, é possível que esteja sonhando com pintura.
(…) Sinto-o a um tempo forte e frágil – revestido de obstinação no cumprimento da sua vocação, mas desprotegido e nu como uma ovelha depois da tosquia; como resistirá um homem desses ao mundo de hoje? Que lugar haverá para ele, um artesão, um artífice do belo na era da produção em massa? Que será da pintura com expressão individual, em face da indústria e da publicidade?
(Fernando Sabino, Jornal do Brasil, RJ, 1974)