“A disposição natural de Scliar no sentido de acompanhar e estimular, de diversas diretas maneiras, tantos artistas que dele se aproximam, resulta, a meu ver, da amplitude de seu caráter. Desejando ser objetivo na sua análise das coisas do mundo – porque deseja compreender o mundo para equilibrar-se nele – faz o esforço diário de não gostar apenas do que está muito próximo de sua própria expressão. Vê o universo como multiplicidade, variedade e diversidade. E dessa visão retira sua necessidade de participar de tudo, especialmente das tentativas de comunicação partidas de seus companheiros de arte, no mundo inteiro, e de seus amigos mais aproximados. É um inquieto por saber o que se está fazendo e produzindo na vida. Uma pessoa que acredita sobretudo no poder do trabalho, na urgência de enfrentar e resolver problemas ( e ele os enfrenta e resolve com um misto de tensão, cuidado, carinho e tranquilidade), na necessidade de somar e esquematizar tarefas. Tem o prazer de tocar e manipular as coisas que a vida entrega. (…)
Scliar não impinge sua experiência, apesar de vivê-la e acumulá-la intensamente. É nessa própria experiência, resultante de uma vida vivida com honestidade e generosidade, que se impõe por si mesma. Admiramos seu equilíbrio, sua disposição de transferi-lo para outras pessoas, sobretudo de gerações mais novas em processo de surgimento e afirmação. Ele não se fecha, não quer ser dono da verdade, embora pudesse ser dono de algumas delas. (…)
Scliar tem a rara capacidade de gostar dos outros e das coisas que os outros fazem, simplesmente porque, antes de mais nada, é uma pessoa e um artista que se encontrou a si próprio.”
Farnese de Andrade (1970)