Danúbio Gonçalves

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“NOSSO CARLOS SCLIAR

Lembro-me dos guaches de Carlos Scliar, expostos em 1944, no Instituto dos Arquitetos do Rio de Janeiro. E, depois, dos desenhos expressionistas de guerra resultantes de sua estadia na Itália como expedicionário da FEB. Mas só vim a conhecê-lo pessoalmente em Paris (1950). (…)

 

A liderança e persistência entusiástica de Scliar contagiava os jovens artistas que, comunitariamente, eram partidários de uma arte engajada ou humanística. Movimento, na época, semelhante ao de outros países europeus contrários ao decorativismo alienado da abstração. Jovem pintor com planos e sonhos. Mais planos plausíveis do que utópicos. Temperamento rico em emotividade.

 

Consolidamos nossa amizade e tantas vezes trabalhamos juntos com o Grupo de Bagé e seu inseparável companheiro Glauco Rodrigues.

 

(…) O pintor gaúcho, autodidata, mas sempre atento aos conselhos dos artistas experientes. Somados à prática de ateliê e complementados com viagens e permanência em países europeus.

 

Cativante sua erudição. Conversa sua era oratória. Acessível para os menos cultos e no mesmo diapasão aos mais esclarecidos. Leitor por toda a vida, apaixonado e conhecedor de cinema e outros gêneros da arte.

 

(…) Carlos Scliar atento às injustiças e às falcatruas globalizadas. Nunca alienado. Alerta e ativo na defesa da não depredação do patrimônio artístico nacional (em Cabo Frio e Outro Preto). Defensor da memória e, seguramente, contra o descartável consumismo.

 

Legou-nos obra de postura profundamente humanística, tão digna de ser continuada. Exemplo para os que veem na arte apenas um mote decorativo ou que vivem ainda trancafiados na comodista torre de marfim…

 

Adeus, Carlos Scliar, continuarás vivo para orgulho de nossa arte e cultura.”

 

Danúbio Gonçalves (texto publicado no Jornal do MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul

maio/2001)