“À medida que o Scliar ia colocando diante de mim, no estúdio do seu apartamento do Leblon, quadro após quadro da sua exposição retrospectiva, eu ia compondo mentalmente um quadro-chave, a súmula da pintura scliniana: um Autorretrato do pintor louro, olhos azuis, lembrando, apesar da idade provecta, um jovem cavaleiro pré-rafaelita, entre alguns dos pensativos copos de vinho que pinta, e positivamente cercado, sitiado de textos escritos, colados por toda parte, textos de jornal, de carta, de cartão postal. Estes textos seriam de Rubem Braga, Maria Helena Vieira da Silva, Glauco Rodrigues, Justino Martins, Joel Silveira, dessa legião de amigos que Scliar tem feito através da vida e dos quais fala sempre com um sorriso e uma emoção, um pouco, exatamente, como quando erguemos um brinde a uma pessoa querida, ausente no momento.
(…) Mesmo a angústia metafísica de todo grande artista, ele prefere compartilhá-la. Diz ele: “Mas o que somos? A que nos propomos? Para onde vamos? ”
(…) Por isso é que esse pintor, que põe elegância e bom gosto em tudo que pinta, nunca ficou elitista, distante.
(…) A Ucrânia nos enviou dois régios presentes: Clarice Lispector, consignada à literatura, e Carlos Scliar à pintura do Brasil.
(…) O próprio Scliar me disse, quando encerrávamos uma de nossas conversas: “Me proponho ser um pintor de idéias que, através de uma geometria lírica, tento sintetizar o mundo nascido de minha observação, fantasia e amor ao homem.
Antônio Callado (em entrevista com Scliar para a revista Senhor, 1963)